A tranquila Praia do Futuro, em Fortaleza, é palco de uma intensa disputa entre a promessa de mais água potável e a ameaça à conectividade digital no Brasil. O projeto de uma usina de dessalinização pode ampliar em 12% a oferta de água na Grande Fortaleza, mas as operadoras de telefonia e a Anatel temem que a infraestrutura da usina possa danificar os cabos submarinos essenciais para a internet no país.
Fortaleza é conhecida por ser o primeiro ponto de contato dos cabos de fibra ótica vindos da Europa, garantindo uma conexão rápida com o continente. Segundo a Anatel, esses cabos são responsáveis por 99% do tráfego de dados entre o Brasil e o exterior. O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, salientou a importância dessa conexão, afirmando: "O Ceará, em especial a cidade de Fortaleza, é que garante a interconexão do Brasil com o resto do mundo".
A Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) lidera o projeto da usina de dessalinização com o objetivo de amenizar a crise hídrica na região. No entanto, existe uma preocupação crescente sobre o risco potencial para os cabos submarinos. A Anatel, percebendo o risco, emitiu uma recomendação contrária à instalação da usina, resultando em uma paralisação temporária do projeto.
Neuri Freitas, diretor-presidente da Cagece, explicou que alterações foram feitas no projeto para aumentar a distância entre os cabos e a usina de 40 para 500 metros, visando mitigar os riscos. Essas alterações, que custaram entre R$ 35 e 40 milhões, são vistas como um passo positivo para reconciliar as necessidades de infraestrutura digital e hídrica. Freitas expressou confiança na resolução do impasse, afirmando: “A nosso ver, isso está totalmente resolvido, não vamos trazer nenhum risco, buscamos a conciliação".